sexta-feira, 6 de maio de 2011

UM ESTRANHO NA MINHA CASA

O ESTRANHO EM NOSSO LAR
Quando
eu estava crescendo, nunca questionei seu lugar na minha família. Em
minha mente de menino, ele tinha um lugar especial. Meus pais eram
instrutores complementares: mamãe me ensinava a fazer a diferença entre o
bem e o mal, e papai me ensinava a obedecer. Mas o estranho… ele era um
contador de estórias. Ele nos mantinha fascinados por horas sem fim com
aventuras, mistérios e comédias.
Às
vezes, mamãe se levantava silenciosamente enquanto o resto de nós
ficava pedindo para falar baixo uns para os outros para que pudéssemos
dar atenção ao que ele tinha a dizer, e ela iria para a cozinha para ter
um lugar de paz e quietude. (Fico imaginando agora se ela ia ali às
vezes para orar para que o estranho fosse embora.)
Papai
governava nosso lar com certas convicções morais, mas o estranho nunca
se sentia na obrigação de honrá-las. Palavrões, por exemplo, não eram
permitidos em nosso lar — nem a partir de nós, nem de nossos amigos e
nem de nenhum visitante. Mas nosso visitante de longa data escapava
impune com palavras feias que me ardiam nos ouvidos e faziam meu pai se
torcer e minha mãe corar de vergonha. Meu pai não me dava permissão de
usar álcool, mas o estranho nos incentivava a prová-lo numa base
regular. Ele fazia os cigarros parecerem bacanas, os charutos masculinos
e os cachimbos distintos. Ele conversava com liberdade (excessiva
liberdade!) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes descarados, às
vezes insinuantes e geralmente de dar vergonha.
Hoje
sei que meus primeiros conceitos sobre relacionamentos foram fortemente
influenciados pelo estranho. Frequentemente, ele se opunha aos valores
dos meus pais, mas raramente era repreendido… E ninguém NUNCA lhe
ordenou ir embora.
Mais
de cinquenta anos se passaram desde que o estranho foi viver com nossa
família. Ele se adaptou na mesma hora, mas não é praticamente tão
fascinante quanto era antes. Contudo, se você pudesse entrar na casa dos
meus pais hoje, você ainda o veria sentado no canto, esperando que
alguém lhe dê atenção e assista-o mostrar seus quadros.
O nome dele?…
Nós o chamamos simplesmente de “TV”.
Ele tem uma esposa agora… Nós a chamamos “Computador”.
Seu filho é o “telefone celular”.

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